Quando penso na composição de um traje para o dia-a-dia, além de contemporizar com as novidades da moda, sempre busco um detalhe que torne a produção peculiar, emprestando um pouco da minha identidade ao visual. Pode ser um acessório artesanal ou alguma peça retrô, elementos singulares normalmente produzidos a duas mãos e não pela frieza das máquinas industriais.
Possivelmente, esse ofício já foi a garantia de sustento de muitos de nossos antepassados, cujo trabalho muitas vezes nem chegamos a conhecer. Com o passar das décadas, as tecnologias apareceram, os comportamentos mudaram e as profissões foram recicladas. Nem todos sabem, mas antigamente moda não era coisa “de mulher”. A profissão era privilégio somente dos homens, que criavam roupas tão somente para outros homens.
Alfaiates, costureiras e sapateiros já foram profissionais de baixo reconhecimento no passado. Hoje a moda personificada, conhecida como alta costura, é chique, cara e um privilégio de poucos. Aí reside o caráter efêmero e, ao mesmo tempo, tão peculiar de cada profissão. Elas mudam de nome, de segmento, de público e até podem desaparecer por completo. Mas a relevância de cada ofício para o desenvolvimento de uma sociedade nunca se apaga.
Em tempo: quem já ouviu falar do antigo fotógrafo lambe-lambe, também conhecido como fotógrafo de jardim? Isso não existe mais. As câmeras digitais e os celulares enterraram para sempre essa profissão. Mas uma fotografia não precisa ser um produto banal. Ao contrário: podemos usufruir das facilidades tecnológicas para compor registros fotográficos exclusivos, a partir de cenários que só a sensibilidade de cada um permite imaginar.
Penso que, independentemente da área, exercer um trabalho bem feito é, de certa forma, executá-lo de forma artesanal. Posso praticar uma atividade aos mesmos moldes que milhares de outros indivíduos, mas a forma como empresto minha identidade ao ofício é que vai torná-lo único e especial. É um parâmetro que serve também para diversos setores de nossas vidas. Feliz dia pra você, trabalhador de todos os tempos.
Lidiane Oliveira é jornalista e radialista na 94 FM Bauru.